A propósito de Incontinência urinária feminina…
A International Continence Society (ICS) define a sintomatologia da incontinência urinária como “ a queixa de qualquer tipo de perda involuntária de urina” (Abrams, et al 2003). A incontinência urinária deve ser interpretada como um sintoma, um sinal e um diagnóstico. Um sintoma porque os doentes queixam-se de perdas de urina. Um sinal porque o médico pode visualizar ou inferir essas perdas através do exame objectivo ou de um estudo urodinâmico. E finalmente um diagnóstico, porque ao juntar as queixas aos exames auxiliares de diagnóstico (quando necessários) o médico pode identificar e classificar as perdas urinárias em um dos seguintes tipos de incontinência:
– Incontinência Urinária de Esforço (IUE): Perda involuntária de urina com o esforço (tosse, exercício, levantamento de pesos, etc..).
– Incontinência urinária associada a imperiosidade/urgência: Perda involuntária de urina acompanhada antes, durante ou depois de fenómenos de sensação de vontade de micção súbita e imperiosa difícil ou impossível de protelar ou adiar.
– Incontinência urinária mista: Perda involuntária de urina com o esforço e associada também a fenómenos de imperiosidade/urgência.
Mas nem sempre é fácil dar o primeiro passo para procurar ajuda! A inibição social ou a aceitação de se tratar de “um facto consumado” faz com que a maioria das vezes estas mulheres não assumam perante o seu médico que têm este problema. A iniciativa da procura do problema deve partir também do clínico, alertando as mulheres para este problema tão comum e com solução terapêutica fácil e disponível.
Epidemiologia e Fatores de risco da incontinência urinária feminina
A incontinência urinária é um problema de saúde devastador, muitas vezes negligenciado e com um elevado atingimento social e económico por todo o planeta.
É uma patologia essencialmente feminina e cuja a prevalência aumenta com a idade: 20-30% das adultas jovens referem pelo menos um episódio de perda de urina na sua vida. Estes valores ascendem para 30-40% no caso das adultas de meia idade, podendo chegar aos 30-50% nos idosos. A incontinência urinária de esforço é o tipo mais comum (49%), seguida de incontinência urinária do tipo misto (29%) e por fim a incontinência urinária associada a fenómenos de urgência.
Os fatores de risco associados a esta patologia são:
– sexo feminino, idade avançada, a obesidade, o número de gestações e partos prévios, o parto por via “natural” ou a cesariana de urgência vs cesariana electiva.
Existem outros fatores de risco que ainda não foram totalmente estabelecidos como por exemplo o tabaco, a menopausa, a obstipação ou tosse crónicas e qualquer cirurgia pélvica major prévia.
Etiologia e fisiopatologia da Incontinência Urinária Feminina
A incontinência urinária uretral pode dever-se a alterações ao nível da bexiga (ex. IU associada a Imperiosidade/Urgência), ao nível do complexo esfincteriano (Incontinência Urinária de Esforço – IUE) ou de ambos (Incontinência Urinária Mista)
Avaliação da doente com incontinência urinária de esforço
História Clínica
A história clínica é fulcral para a identificação da possível causa subjacente que promove a incontinência.
Sempre que possível devem ser quantificadas as perdas sendo a forma mais fácil parao fazer, através da contabilização do número de pensos higiénicos usados diariamente.
Outra forma de quantificar as perdas urinárias e o grau de atingimento que esta patologia provoca na vida social de cada mulher, é através da utilização de inquéritos de auto-preenchimento. O inquérito mais utilizado é ICIQ-SF (sem baixo).
Exame físico
O objectivo do exame objectivo é detectar anormalidades anatómicas ou neurológicas que contribuam para a incontinência urinária.
Durante este exame deve ser dada uma especial atenção à constatação de perdas urinárias com o esforço. Estas podem ser provocadas com a manobra de valsalva ou com a tosse provocada.
Exames auxiliares ao diagnóstico
Urocultura: deverá ser sempre pedida uma urocultura a todas as doentes com queixas de incontinência urinária de modo a excluir, uma possível infecção do tracto urinário.
Estudo Urodinâmico: Nesta patologia este estudo só é realizado habitualmente em doentes que apresentam queixas de imperiosidade/urgência associadas às perdas urinárias ou em outras situações especiais como por exemplo, recidiva das queixas após correcção cirúrgica de IUE.
Tratamento
O tratamento desta patologia deve ter subjacente sempre o correcto diagnóstico da origem da incontinência urinária.
Incontinência urinária de esforço (IUE)
a) Reabilitação do pavimento pélvico: modificação comportamental, exercícios musculares pavimento pélvico, electroestimulação.
b) Colocação de sling (fita sintética) suburetral por via transvaginal: suspensão da uretra impedindo-a de ser hipermovel durante os períodos de esforço físico. Esta é uma técnica segura, simples e com uma taxa de sucesso em cerca de 90-95% dos casos.
Incontinência urinária de urgência (IUU)
Devem ser introduzidas alterações comportamentais de forma a reduzir as perdas urinárias. O controlo progressivo sob os episódios de urgência passa por exercicios nos quais se contrariaram e adiam a vontade de urinar o mais possível, permitindo uma diminuição dos episódios de perdas e uma consequente melhoria da qualidade de vida.
No entanto a grande maioria dos doentes acaba por fazer algum tipo de terapêutica farmacológica por força das suas queixas. Estes medicamentos têm como função, inibir as contracções involuntárias do músculo da bexiga.
Nos casos em que estes medicamentos falhem ou sejammal tolerados, existem ainda outras opções farmacológicas, como por exemplo a injecção de toxina botulínica no músculo da bexiga ou a utilização de neuroestimulação sagrada através da aplicação de neuromoduladores (pacemakers).
Conclusão
A incontinência urinária é uma patologia que atinge um, grande número de mulheres de todas as idades
Este problema tem um impacto negativo na vida pessoal e social das mulheres atingidas e não deve ser menosprezado. No entanto é importante sempre realçar que… é um problema com solução!
Se sofre de incontinência urinária não se iniba, procure um urologista! Este não é um problema com que tem de viver para o resto da sua vida!